Opinião

“O Homem das Castanhas” de Søren Sveistrup

Eu sou daquelas que julga os livros pela capa (e claro… às vezes se engana!) e ainda, pela forma como começam (engano-me menos). Os inícios, para mim, são extremamente importantes, podem mesmo ditar se vou gostar ou não, porque revelam logo a capacidade (ou falta dela) do autor para nos agarrar. Definem muito do ambiente que podemos encontrar ao longo do livro, do ambiente que ele nos consegue proporcionar, independentemente do enredo (mais ou menos técnico) que possa inventar! Para mim, os enredos não são, de todo, a coisa mais importante de um livro, mas sim o ambiente, a sensibilidade, a construção das personagens! “O Homem das Castanhas” tem, ou parece ter, tudo aquilo que eu aprecio! Uma capa lindíssima, com relevo, como gosto e um título bastante apelativo. Há um ligeiro toque sedutor no que encontro à primeira vista! E, embora o seu género, me fizesse voltar-lhe as costas, essa sedução envolveu-me de uma forma quase mágica e não descansei enquanto não o tive na estante! Pensei: mesmo que não goste de o ler, terá um lugar cativo na biblioteca! E quando abro a primeira página, talvez por não trazer comigo qualquer expectativa, delicio-me com a abertura, tom que mantém, pelo menos até à página 100, onde estou agora! O Outono sempre foi a minha estação favorita e este livro está repleto de outono, de degradés de castanhos, de folhas 🍁 que voam, de castanhas 🌰, obviamente! É verdade que o clima da Dinamarca não é mediterrâneo, mas as pessoas já vestem kispos e gorros!

Nunca tinha lido nenhum thriller policial e, à partida sabia que era uma leitura que não me iria apaixonar. Eu gosto de ver séries sobre sobre serial killers, mas apenas as que, ou são em género de documentário, ou ligeiramente ficcionadas, mas com uma base real. E, ao ir desbravando “O Homem das Castanhas”, consigo perceber perfeitamente (reitero: sem ter lido qualquer tipo de thriller policial antes) a qualidade da escrita e da técnica, aliadas a uma lado um tanto obscuro com uma dose certa de criatividade. A fórmula-tipo está toda lá: dois inspectores muito carismáticos, um homem e uma mulher, ela assertiva, ambos determinados e os mais inteligentes do Departamento de Homicídios de Copenhaga, ela a típica mulher independente e ele o típico homem atormentado pelo seu passado, de quem todos desconfiam, ambos heróis, ambos jovens e atraentes. A lógica do criminoso tem, também, um típico conteúdo, torna-se interessante e acaba por ser surpreendente, embora tenha achado, na sua maioria (salvo alguns pormenores), bastante previsível e “Hollywoodesco”. Mas as castanhas….

Ressalvo que gostei da estrutura, gosto deste aspecto de iniciar com uma memória passada, que recupera mais à frente. Como já referi, gosto muito o tom outonal, das cores e do movimento das folhas, que acabam por ser engolidas pela neve, quando o Inverno se aproxima. Adoro o que ele conseguiu à volta das castanhas e, de como se apoderou de uma coisa tão simples e com um significado tão pueril, para o transformar em algo tão obscuro. Claro que, embora criativo no desenvolver das castanhas, o facto é que, como sabemos, quanto mais pueril é um objecto, mais obscuro que se torna quando aliado a um crime – como menciona Denver em “A Casa de Papel”, “se tivessem entrado na Casa da Moeda com máscara de Rato Mickey teria muito mais impacto do que com máscaras de Salvador Dali.

No geral, é uma leitura de entretenimento, que, tenho de confessar, não é leitura que aprecie, gosto de coisas mais pesadas, que explorem ao máximo a natureza humana, sem filtos, no estado mais primitivo a quem conseguimos chegar. Aqui, é o enredo que suporta o conteúdo, e o que me atrai num livro, é quando o enredo se torna o menos importa. Não sei se, se o tivesse lido noutro momento, teria gostado da mesma forma, acho que o facto de ter saído de um Umberto Eco bastante complexo de ler (que, basicamente com o mesmo número de páginas, levei cerca de 3 semanas, enquanto este li em 4 dias). Vou ler mais 1 ou 2 do género, para entender se este, tal como referem todos os comentários que tenho lido, é, de facto, um dos mais interessantes e mais bem conseguidos do género. No entanto, há um pormenor que preciso de referir, a quem com isso se incomode, como eu, que são as constantes referências às marcas, o MacBook Pro, o Lenovo, o iPhone, a todas as marcas de vestuário e calçado, que são completamente despropositadas e apenas fazem transparecer uma tentativa de contemporaneidade que, na minha opinião, sai completamente descontextualizada do resto do texto que, ganharia muito mais sem elas, chamando computador portátil ou laptop aos computadores e botas às Timberland, até porque a marca, sufixa sempre a descrição do objecto. Uma redundância desnecessária e que, para mim, hostilizou bastante a leitura.

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