“O Pêndulo de Foucault” de Umberto Eco
Estamos em Itália, vamos a França e até ao Brasil, viajamos por todos os tempos da história dos Templários, e percebemos que, por mais quilómetros que façamos e por mais séculos que passem, o ser humano mantém esta consistência, sem evolução aparente. E que só está salvo dela, quem se conseguir distanciar do calor que as paixões fazem assolar ao coração. Este livro é tanta coisa, mas acima de tudo é uma crítica acérrima, pejada de ironia, mais ou menos dura, que acerta “naquele que só vê o que escolhe ver”. Dá-nos conta de como toda a ansiedade inconsciente, que julgamos passional, nos cega e nos conduz ao abismo do fundamentalismo e da crença que temos nele: “Naquele dia tinha-me tornado incrédulo. Isto é, arrependi-me de ter sido. Tinha-me deixado levar por uma paixão da mente. É isto a credulidade.” À forma como nos deixamos envolver por um plano, O Plano que nos leva, sozinhos, claro, porque, ao sermos estúpidos, doidos, imbecis e cretinos, nos julgamos mais sábios que os outros que consideramos estúpidos, doidos, imbecis e cretinos e só nós conseguiremos desvendar o Segredo que nos conduzirá, finalmente, à meta de todas as metas dos intelectuais: O Santo Graal.
É uma leitura pesada, lenta, porque dois terços deste livro, são referências históricas e literárias que, até os literados têm dificuldade em reconhecer e assimilar, muito menos o mais comum dos mortais. E, só por isso, não lhe dou as 5 estrelas que sei que merece. No entanto, é uma leitura muito divertida, soltei várias gargalhadas e sorrisos, ao longo das 3 semanas que passei com ele, lendo uma média de 40 páginas por longas noites de 5 horas. Um livro que não conseguia começar a ler antes das 23:30, talvez porque precisava da noite para me conseguir envolver na obscuridade de todas as teorias da conspiração apresentadas. Um livro que me fez olhar para o movimento dos Flatearthers de uma outra perspectiva (nunca positiva, obviamente) e que me fez entender melhor o documentário que vi, no final do ano passado “Don’t Fuck With Cats”, que nos mostrava como o nosso fundamentalismo sobre as acções erradas de outro, pode ter efeitos colaterais inimagináveis. O que julgamos de sagrado para nós e que defendemos com unhas e dentes, sem olhar a meios, pode cegar tantos e prejudicar muitos mais.
Assim, o Pêndulo de Foucault, torna-se um livro que recomendo, a quem tem paciência e perseverança, a quem aprecie um livro pelo que nos ensina, ao invés do seu enredo e, acima de tudo, a quem não se assusta com a ideia de se confrontar com o seu eu que é estúpido, doido, imbecil e cretino. No entanto, e apenas uma ressalva, a quem quiser ler o livro, desaconselho a leitura desta edição da Difel, por estar tão pobremente traduzida e revista, que acaba por tirar algum do prazer à leitura.
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