A Veia da Minha Bílis,  Opinião

“Holy Cow” de David Duchovny

 

_ Holy Cow! O Duchovny escreveu um livro?

_ Não, até à data, o Duchovny escreveu 4 livros!

_ Holy Cow! E um deles é de humor?

_ Sim, sobre uma vaca que engendra um plano ao qual se junta um porco e um peru.

_ Mas o que é que o Duchovny percebe de humor?

_ Bem, pelo menos o suficiente para já ter ganho e ter sido nomeado para vários prémios na categoria de comédia. Aliás, a sua prestação em Californication, já apresentava uma personagem com bastante humor.

Estas foram as perguntas que me coloquei quando, na minha busca de títulos para o #desafiosillyseason, me deparei com Holy Cow (Vaca Sagrada, na versão Portuguesa editada pela Saída de Emergência em 2016), um livro de humor escrito pelo, para sempre mítico Fox Molder de X-Files, que desiludiu uns tantos fãs, como Hank Moody em Californication onde, devo confessar, ganhou toda a minha simpatia e afeição.

Eu não gosto muito de falar sobre o enredo dos livros, mas sem deixar sair surpresas, o que vamos encontrar aqui são animais com sonhos, que querem mais do que a falsa domesticidade de uma quinta, principalmente quando se apercebem do seu destino: temos uma vaca que quer ser sagrada, um porco que quer ser judeu e um peru que quer voar. Simples, certo? Só que nem por isso, porque nem sempre percorrer o caminho para os nossos sonhos é tarefa fácil e, mesmo quando lá chegamos, podemos aperceber-nos de que, afinal, o nosso sonho, não era aquele e, pode muito bem, estar noutro lugar e aí,  só nos resta descobrir outro caminho e “mugir em frente”.

Elsie Bovary, o nome da personagem principal, tem um humor lacónico, do qual se orgulha tanto, que acabamos por não perceber qual das premissas é mais engraçada, a sua piada ou a sua ingenuidade. Jerry, o porco, quando decide converter-se ao Judaísmo, aprende tudo o que consegue sobre a religião e altera o seu nome Shalom. Já Peru, Tom Peru, que se mantia anorético com medo do Dia de Acção de Graças, apenas queria ser Rei de um país com o seu nome. Ou seja, o que cada um destes animais procurava era, mais do que fugir a uma morte certa, eles queria distinguir-se da manada, da vara e do bando. É por isso que decidem camuflarem-se de humanos de forma a conseguir fugir e, ao longo dessa aventura, perceberem que os humanos se comportam como animais.

Ao longo do texto, Duchovny vai fazendo, também, algumas críticas, através da voz de Elsie, ao processo editorial pelo qual passam vários autores,, nomeadamente ao tipo de críticas e de sugestões que tornarão o livro mais vendável, a que, neste caso a nossa Bovary tenta sempre corresponder com bastante ironia.

É um livro curto, fácil de ler e bastante divertido, mas que também nos traz alguma perspectiva, mesmo que esta não seja nova ou original, do que pode significar viver em manada.

E, caramba, é um livro escrito pelo David Duchovny sobre uma vaca de apelido Bovary – acho que só por isto, já vale a pena!

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