“Yes Please” de Amy Poheler e “Bossy Pants” de Tina Fey
Quando me propus a ler literatura de humor, nas minhas pesquisas superficiais, o género literário que mais encontrei foram autobiografias de humoristas ou comediantes. De todas as que encontrei, seleccionei as de mulheres, visto que, infelizmente, o humor é ainda um terreno onde dificilmente encontramos a voz delAs, principalmente no mundo editorial, sendo nas autobiografias que elas mais se fazem ouvir, contando as suas histórias, talvez, em mais uma tentativa de marcar o seu lugar.
São algumas, mas como sabia que não ia conseguir ler muitas porque queria ler outros géneros, resolvi escolher 2 mulheres, Amy Poheler e Tina Fey – sabia que tinham percursos que se cruzavam e que eram mulheres que tinham já conquistado o seu lugar nos Estados Unidos da América e com reconhecimento para cá do Atlântico, mesmo que não tivessem chegado através do “Saturday Night Live”, pelo menos através das suas sitcoms, “Parks and Recreations” e “30 Rock”, respectivamente. Apesar de tudo o que as une, apercebi-me de que há, também, um hiato que as separa, não na forma como encaram a sua profissão, mas no que esperam dela e no percurso que traçaram. E as suas histórias estão escritas de maneira tão semelhante, evidenciando, claro o que a carreira fez de cada uma delas, que decidi escrever sobre ambas.
Como qualquer autobiografia, ambas contam como as suas decisões moldaram o trajecto que as trouxe ao mundo em que estão. Em especial, estas destacam o facto arbitrário do genoma poder ter influenciado as suas carreiras, não tivessem elas tido a força para lutar contra os estereótipos e conseguirem chegar ao ponto onde o seu talento perpassou a simetria do seu físico, pelo menos no caso de Amy Poheler. Ambas começam juntas em clubes de improvisação em Chicago mas quando chegam ao “Saturday Night Live”, Tina Fey afasta-se cada vez mais da ribalta, para dentro dos escritórios onde a magia começa a desenhar-se, Tina dedica-se à escrita de guiões. Amy continua a brilhar enquanto a actriz talentosa em que se tornou.
Três anos separam estas autobiografias. Eu li “Yes Please” (Amy Poheler), primeiro e depois “BossyPants” (Tina Fey) e, embora reconhecesse a aproximação da forma e desconhecendo o percurso de ambas, não me foi difícil de perceber de que Amy se havia baseado no livro da melhor amiga para escrever o seu – só agora ao escrever é que fui verificar as datas de publicação, 2014 e 2011 respectivamente. Algo que não me espantou, até porque no início de “Yes Please”, encontramos uma Amy a debater-se com a dificuldade em escrever o livro e a possibilidade de desistir. A razão é muito simples e pode apresentar-se como a diferença entre comédia e humor: Amy é comédia enquanto que Tina é humor. Só para situar, neste website encontrei esta forma simples de distinguir: “A comédia tenta-se. O humor acontece.” E é de facto isto que distingue ambas as autobiografias. Enquanto Amy Poheler nos conta a sua vida e como passou de ser empregada de mesa a actriz principal de uma das séries contemporâneas mais icónicas dos Estados Unidos da América, todos os risos que nos arranca é no sentido de tentar criar comédia, e isso é algo que lhe está intrínseco desde os seus tempos dos clubes de improvisação, em que trabalhava para produzir conteúdo cómico através de elementos físicos, incluindo a voz, claro. Já Tina Fey,, que também trabalhou em clubes de improvisação com Amy, quando voa para Nova Iorque para ser entrevistada para o “Staurday Night Live” é para abraçar um novo desafio como guionista, e é aqui que encontra o que realmente deseja fazer e como quer, realmente estar na comédia, no humor.
Esta é a razão pela qual a sua autobiografia poderia ter sido escrita como um guião de um espectáculo de stand-up, ou de um filme, mesmo, em que se conta a história de uma vida, se partilham imensos momentos que todos nós temos em comum e, mais ou menos subtilmente, o humor acontece e, quando menos esperamos, a punchline solta-nos a gargalhada.
E esta diferença é muito clara e assumida em ambas: Amy é uma intérprete, Tina uma escritora.
Muito interessante, em ambas é o testemunho sobre a forma como lidaram com a maternidade e o trabalho ou pior que isso, como lidaram com os julgamentos sobre a forma como lidaram como a maternidade e o trabalho. Ambas trabalharam até quase irem directas do estúdio para o hospital, ficaram em casa muito menos tempo do que a média normal das mães americanas e, Tina, que estava no arranque da sua série “30 Rock”, reunia em sua casa para rever guiões até altas horas, depois de um dia inteiro no estúdio a gravar.
Considero que ler biografias de humoristas é bastante pertinente para conseguirmos entender mais acerca do ofício em si e, quando são de mulheres mais ainda, até porque há ainda muito pouca bibliografia feminina dentro do género que não seja autobiográfica. Apesar de ter visto alguns episódios de “Saturday Night Live”, “Parks and Recreations” e “30 Rock”, a ideia que tinha de Amy Poehler não se alterou, mas caramba, Tina Fey deve ser um mulherão incrível a trabalhar e, por mais que veja e reveja todos os seus episódios, julgo que nunca captaria um terço da essência que ela revela no seu livro “BossyPants”.
Pecando por ainda ter muita mulher humorista para ler, infelizmente não tanta quanto homens, aconselho que conheçam Tina Fey, que deve ser das mulheres mais bem sucedidas da área, mais trabalhadora, séria, empenhada e, ao mesmo mais humilde, leve, bem-disposta, alguém bom de se ter por perto.
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