A Veia da Minha Bílis,  Agora Cronico Eu

Rainbow-Friday, agarre já a mão-de-obra mais barata!

Meus caros,

Hoje venho falar-vos de racismo. Há algo que eu preciso de desabafar convosco,

Há uns tempos, não assim há tantos.. andávamos tão engajados com o movimento americano #blacklivesmatter que se espalhou pelo mundo, tão preocupados em consciencializar os discursos que trazem, tão intricada e inconscientemente, conotações racistas como o “vi-me negro para cá chegar” – eu própria fui chamada à atenção por ter caracterizado com “negrume” os tempos em que vivemos, termo aliás que a minha cara Teresinha Horta utiliza amiúde na sua escrita… Nem a Colgate escapou, por usar o termo Whitening para promover os seus produtos.

No entanto, há algum tempo que não ouço nada acerca do assunto, deve ter aparecido uma luta mais importante, talvez a petição que anda a circular por causa dos lugares de estacionamento que a Câmara de Lisboa retirou em Arroios.. Juro.. já assinaram? Eu não sou de Arroios, sou do Areeiro não tenho esse problema, mas sou solidária com quem não tem onde estacionar o carrinho à porta do seu T6 no centro de Lisboa.

A verdade é que seja o que for que surgiu é bem mais importante, porque a única loucura que sinto com o Black Friday é de facto: “Oh, Meu Deus, Tu Olha-me o preço daquele iPhone!” e não manifestações contra o exponencial capitalista que o Black Friday representa e, obviamente, as suas conotações altamente racistas. senão pensemos: artigos com descontos até aos 70%, por isso ao preço da uva mijona e que as pessoas formam fila para ver quem compra o melhor primeiro, o que tem menos defeito. E sabem o que é que antes era também ao preço da uva mijona e estava em montra para ser inspeccionado por uma série de compradores?

Os escravos…

E de que cor eram os escravos?  Exacto..

Se era só à Sexta, não sei.. mas também já não importa muito, visto que a Black Friday agora se estende por duas semanas, não vão as pessoas perder a oportunidade de comprar o melhor escravo . desculpem, robot de cozinha do mercado.

Bem vistas as coisas, é como ir celebrar o dia do trabalhador ao Pingo Doce com 50% de desconto em produtos cujos preços foram duplicados nos dias anteriores, enquanto os trabalhadores deviam estar de folga a comemorar os seus direitos, mas ao invés, estão a fazer horas extraordinárias a executar funções que são, por vezes, mais próprias de polícia de intervenção, do que de chefe de secção da frutaria. (Sinto que a piada do Pingo Doce no 1º de Maio já é muito velha, mas a verdade é que resulta sempre.)

Bem, chega de críticas, e continuando na área das promoções: eu adoro os folhetos do Lidl, não só têm promoções bastante apelativas como também informações bastante pertinentes. Aliás, eu recebo a newsletter às segundas e às quintas e vejo sempre o que há de novo, logo depois de ter lido as gordas do Público e percebi  que elas se completam, querem ver:

Ontem o Lidl também anunciava a Black Week, – claro, e como são alemães, têm de ser diferentes, não têm fridays, têm weeks – e o Público também anunciava uma mega promoção de 80%, 80% da população portuguesa vai ter direito à nova vacina contra a covid-19 – obviamente não mencionava nada acerca de Black porque, além de ser um jornal respeitável e não querer ser conotado com movimento algum, também teve receio de que as pessoas não entendessem a que cor de pele do braço se destinava a vacina,

Mas.. esta era a gorda da notícia… atenção, leia-se “o destaque” e não a forma física da responsável pelo artigo, de Clara Barata. A verdade é que, segundo a jornalista, o desafio está na conserva destas vacinas que exigem congelação ultrafrio. Se regressarmos ao Lidl, podemos perceber a razão desta exigência, eles explicam tudo no seu folheto sobre peixe congelado:  “segundo um estudo da National Fish and Wildlife Foundation, a estrutura celular do peixe congelado apresenta uma qualidade três vezes superior à dos produtos frescos. Quando o pescado é ultracongelado em alto mar é sujeito a temperaturas de -30ºC a -50ºC. Este processo, efetuado com rapidez e eficácia no momento da captura, permite preservar toda a frescura e as características essenciais do alimento por muito mais tempo.”  julgo que, em relação à vacina, não será necessário ir para alto mar…

É por isso que se torna difícil fazer chegar a vacina a todos os portugueses, porque, de facto, e infelizmente, nem toda a gente tem a capacidade de manter temperaturas baixas o suficiente para conservar as vacinas, aliás, nem sequer alimentos… Como é o caso de todos aqueles que beneficiaram dos programas de ajuda alimentar e receberam de uma só vez, comida congelada em barda e que agora não têm onde conservar, aliás, alguns não têm sequer onde dormir, e outros, mesmo que tenham um tecto, nem têm electricidade.

Assim sendo, estas pessoas juntaram-se e criaram um novo programa alimentar que distribui a comida congelada que não conseguem conservar, aos 80% da população que vai ter acesso à vacina – quem quarda uns mililitros de substâncias inoculantes, também guarda 20kg de bacalhau..

Para hoje, só me apraz aconselhar-vos “Idiotas Úteis e Inúteis”, o livro que Ricardo Araújo Pereira acabou de lançar através da Tinta da China, que reúne crónicas que escreveu para o jornal Folha de São Paulo, cujo tom deveria dar muito mais credibilidade a esta história

Esperem, esperem.. antes de fechar a emissão, acabei de receber uma mensagem a avisar de que a EDP está a fazer Green Weekend com grandes descontos em frigoríficos e congeladores. Olha não é que vem mesmo a calhar….

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