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Manual do bom fascista

Hoje cedo bateram-me à porta e, para minha infelicidade, não consegui esconder a minha presença. Era um homem esguio, de fato e gravata. Eu, já escaldada com estes tipos avisei logo:
_ Se vem para instalar o medo pode dar meia volta que o Carlos e o Sousa já cá estiveram a semana passada.
_ O Carlos e o Sousa? Mas nós não temos ninguém com esses nomes na nossa empresa! Confirmou as credenciais dos técnicos?
Olhei-o de lado…
_ Estou a ver pelo seu ar de dúvida que os meus colegas fizeram um bom trabalho, então!
_Ouça, eu já disse e torno a dizer, eu vivo com dois cães, uma gata que rosna e uma cabra que marra. Tenho bombas para a asma, anti-depressivos e anti-psicóticos, eu lá tenho medo de alguma coisa?
_ Pois muito bem, minha senhora, se assim é, e é por isso que aqui estou, gostava de lhe fazer uma proposta. Estaria interessada em integrar a nossa equipa?
_ Equipa? Está maluco? Eu sei bem o que isso é… uma vez fui montar um espectáculo de dança do Rui Horta no CCB e estava lá a Mary Kay a fazer uma conferência no Grande Auditório e nós, os pobrezinhos, atolados na BlackBox. Eu não sou dessa laia.
_ Não é nada disso. Só tem de ler um livrinho que lhe vou deixar, chamemos-lhe um “guia de boas práticas” e espalhar a mensagem através das suas redes sociais, nomeadamente em comentários de cariz fervoroso em publicações de jornais ou de celebridades.
_ Está a brincar comigo? Então eu tenho um projecto de divulgação de literatura há mais de um ano e ninguém me liga nenhuma e iam agora passar-me cartucho à pala desse livro? Já agora, que livro é?
_ Chama-se “Manual do Bom Fascista”.
_ Hmmm, o Otelo morreu há uns dias, não foi? Isso é preciso assinar contrato?
Crónica sobre “Manual do Bom Fascista” inspirada em “A Instalação do Medo”, ambos da autoria de Rui Zink.

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