A Veia da Minha Bílis,  Agora Cronico Eu

Chris Rock, Dave Chappelle and who’s next?

Tendo em conta que Chris Rock deve ser um dos humoristas mais inofensivos da indústria americana, eu adiantaria que Jim Jefferies, Jimmy Carr e Ricky Gervais correm sérios perigo5s.

Chris Rock levou uma chapada em palco de Will Smith porque fez uma piada sobre o cabelo da sua mulher e Dave Chappelle foi atacado em palco com uma faca por algo que, na realidade, desconhece.
Pode à partida assumir-se que a agressão a Chappelle é mais grave do que a agressão a Rock – premissa que nos pode levar ao engano apenas pela comparação estalo/arma.

Sem retirar gravidade a ambas as situações, é necessário ter em conta vários aspectos:
– Chris Rock é inofensivo
– Dave Chappelle pode roçar a controvérsia.
– Chappelle foi atacado por um desconhecido durante o festival “Netflix is a Joke”
– Rock foi atacado por um humorista numa das supostas galas artísticas mais respeitadas de sempre, transmitida em directo para o mundo inteiro.

A razão pela qual afirmo que a chapada é bem mais grave do que a faca, que apesar de tudo poderia ter posto a vida de Chappelle em risco, é porque, tenho em mim que foi exactamente essa chapada que abriu a brecha para que a faca se apontasse a Chappelle. Se um humorista pode mandar uma sarda noutro por causa de uma piada sobre a mulher dele, isso significa que EU, não só, tenho o DIREITO, mas também o DEVER, de me defender quando atacam algo que me é querido.

Na manhã seguinte à mítica estalada eu comentei no instagram que o humor como o conhecíamos tinha mudado para sempre e demorou pouco mais de um mês para que isso se provasse verdade.

Custa-me tanto, em pleno século XXI, ver espectáculos de stand-up em que os humoristas passam quase um terço do seu tempo a ter de explicar e justificar o seu trabalho, que o que fazem em palco, que a sua profissão é entretenimento, não é julgamento ou apedrejamento… embora claro, alguns usem o seu espaço e projecção para dar voz a algumas injustiças sociais, nomeadamente humoristas que pertencem às chamadas “minorias” (e o que já me cansa este termo…). Felizmente alguns “minoritários” já gozam com o branquelas que quer fazer o trabalho por eles para aliviar a sua consciência, como por exemplo Aziz Ansari.

Custa-me muito acreditar que, em pleno século XXI, supostamente tão evoluídos tecnologicamente estejamos a regredir tanto em mentalidade, mas a verdade é que o acesso a tudo, que nos foi entregue de mão beijada, nos cegou completamente. Sentimos tanto a injustiça dos outros na nossa pele que erguemos bandeiras que não nos pertencem, que ninguém nos pede que ergamos. Os #metoos e os #blacklivesmatters seriam movimentos maravilhosos se não fossem levados ao extremo de me chamarem racista por dizer que “vivemos em tempos de negrume”. O extremo amor leva ao extremo ódio e claro, num mundo de ódio não há lugar para o humor porque o humor defende-nos, e em posição de ódio nós queremos atacar.

Estou desde a hora de almoço a tentar elaborar um texto sobre isto. Têm sido horas a pensar no mesmo, obviamente entre arrumações de ferramentas de jardim, orçamentos de piscinas francesas e uma rápida leitura de cartas.

No final do texto escrito chega a hora de ir buscar os remendos que o argumentam, e é aí que desabo. Não transcrevi absolutamente nada que não tivesse ouvido já mais do que uma vez, da boca de pessoas que tanto admiro, mas a verdade é que é quase 1 da manhã e não aguento mais uma dor que se vem a apoderar de mim há já algum tempo.

Gostava de conseguir falar sobre isto de forma menos emocional – uma voz sábia (Ricardo Araújo Pereira) ontem disse-me que quando estava furioso tinha de optar por dois caminhos: parar de escrever ou ironizar a sua fúria – e eu pareço não estar ainda em condições de fazer nenhuma das duas.

O humor é uma das minhas essências mais puras, é-me inato (se isto se pode dizer) ajudou-me (e ajuda-me todos os dias) a lidar com a minha doença e com as minhas incapacidades, aproxima-me das pessoas, torna-me mais leve e um dia em que não me ria ou diga um disparate não é um dia mau, é um dia negro!

Repito:

O extremo amor leva ao extremo ódio e claro, num mundo de ódio não há lugar para o humor porque o humor defende-nos, e em posição de ódio nós queremos atacar.

Para leres mais crónicas, basta seguir este link: #agoracronicoeu

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