Crónicas

O Google diz que:
As crónicas de Ana Carina Paulino focam-se no lado mais bicudo e, por vezes, agridoce do quotidiano  e tratam-no com leveza e um sorriso no canto da boca. Convidam o leitor a rir das pequenas tragédias e absurdos da vida moderna

  • De Budonga a Budonga

    Era uma vez uma barata que um dia acordou e era um Homeostético… Era uma barata. Muito barata, muito normal. Barata não no sentido depreciativo do termo, mas sim no sentido de animal ou insecto. Vivia na sua casa barata com os filhos baratos. Baratos, os filhos, também não no sentido depreciativo, mas no sentido da mãe barata. Já à casa, como não pode ter o de animal ou insecto, porque é uma casa e não um animal ou insecto, restou-lhe o tal outro sentido._ Mas o que é que me aconteceu?Tentou mexer as suas várias perninhas, mas elas haviam-se transformado em quatro membros opulentos, de estrutura e funções diferentes.…

  • Crónica da Liberdade

    Hoje é Dia do Livro e dos Direitos de Autor e este dia 23 de Abril foi escolhido pela UNESCO para celebrar também a tradição catalã do dia de São Jorge (padroeiro da Catalunha) que é o dia em que os enamorados trocam presentes: eles oferecem rosas vermelhas e elas oferecem livros. Para ajudar à festa, em toda a Catalunha a venda de livros neste dia é livre de impostos. Curiosamente, por cá há os escaparates das livrarias não têm tido um cenário muito diferente, ao fim e ao cabo daqui a dois dias celebramos o nosso dia do direito à liberdade, só que ao invés de rosas temos cravos,…

  • Em casa onde não há pão, todos ralham e ninguém tem razão.

    Cada um tem os seus guilty pleasures – por exemplo: há quem adore espremer borbulhas a outras pessoas; o que para mim é só nojento – eu também tenho os meus e, sim, o maior é a Shakira… Mas o mais recente não é menos nojento do que pus a saltar da carne de outra pessoa e muitas vezes também de espichar para a minha própria cara: são as caixas de comentários das páginas de órgãos de comunicação social portugueses. Verdade, assumo o meu lado masoquista, mas só este porque o outro reservo para outro tipo de crónicas… Por isso, e para que não tenham de passar pelo mesmo que…

  • Rogério Casanova comenta um Ricky Gervais que eu não conheço

    Rogério Casanova, cronista do Público, faz uma crítica a SuperNature, o último especial de Ricky Gervais que a Netflix estreou a 24 de Maio de 2022. Sou uma grande admiradora de Gervais, não só do seu stand-up mas também das séries que escreveu e, como tal, não consegui ficar indiferente àquilo que sinto serem observações um quanto despropositadas e infundamentadas sobre o humorista. Primeiro que tudo devo apontar o facto de poder estar a interpretar a sua opinião de forma desviada, visto que a sua linguagem é de tal forma hermética que não sei até que ponto percebi bem tudo o que quis dizer – ainda ando às voltas com…

  • Sopa de Naiças

    Era o que estava escrito um dia, na porta da cantina da universidade: Sopa de Naiças. Tornou-se uma das piadas da turma e, para mim, nabiças tornaram-se para sempre Naiças. Naiças é fixe, soa a “nice”, algo “cool”, pode ser até uma boa táctica para impingir mais vegetais a quem não seja muito fã de verdes.    O desvio de que falo não é muito diferente dos milhares de termos que se atribuem às coisas hoje em dia no sentido de estreitar comportamentos. Por exemplo, “sexting” aplica-se à conversa de teor sexual através de mensagens de texto, no meu tempo, que começou com o IRC, isso chamava-se “sexo virtual” –…

  • Os artesãos de uma arte em risco

    Jimmy Carr começa assim, “His Dark Material”, um especial na Netflix: “Antes de começarmos, um pequeno aviso: “Este espectáculo tem piadas sobre coisas terríveis, coisas terríveis que vos podem ter afectado e às pessoas que amam. Mas são apenas piadas, não são essas coisas terríveis. Há uma grande diferença entre fazer uma piada sobre violação… e fazer uma violação. Espero eu ;)” Diz ainda que devido ao material que vai apresentar, este pode bem ser o seu último especial visto que contém todos os ingredientes, e mais alguns, para entrar no radar da cancel culture. E não falha muito: Quase no final, no seguimento de piadas sobre o Holocausto e,…

  • Poetas de Karaoke

    As notícias dos últimos dias são: a actriz trans que invadiu o palco do São Luiz a reclamar um espaço que sentia seu e, claro, o custo do palco em que o Papa irá discursar nesta coisa das Jornadas Religiosas. Quando isto acontece, o que não é raro, são horas de scrolling nas redes sociais, durante dias infinitos, até conseguir limpar todas as opiniões de toda a gente do meu feed. E é nesta altura que penso: Vale a pena manter Facebook? Claro, podem responder: porque não retiras apenas essas pessoas? Quem opina sobre estas questões é, na maioria, quem mais me interessa manter, pessoas cuja opinião considero relevante. É…

  • Os Portugueses não podem ver nada

    Os Portugueses não podem ver nada   Assim que a DGS leu a minha crónica de há uns dias sobre a Máquina do Tempo que os americanos estão a tentar desenvolver para fazer a maioria dos seus estados regressar ao passado, Gracinha, cheia do broche que em si há sempre ao peito, chamou o António Costa ao seu gabinete: _ Toninho… tu que não te cansas de apregoar que queres estar sempre na linha da frente, não achas bem c’agente vá lá à América pedir uma máquina destas? _ Mas Gracinha, nós já estamos na linha da frente a nível de casos de infecção de Covid. _ Ai filho, isso…

  • A Máquina do Tempo Americana

    A Máquina do Tempo Americana (para facilitar, e embora seja geograficamente errado, apelidarei os Estados Unidos da América de “América” e os seus habitantes de “americanos”)   A ínfima parte do mundo que vibra com ficção-científica sonha com a descoberta da fórmula do seu maior ex-líbris, do seu Santo Graal: a Máquina do Tempo! Ao que parece essa porção de terráqueos pode mesmo começar a ficar em pulgas porque os americanos, que muitos nós nos habituámos a olhar como povo dado a uma estupidez acima da média, parecem estar cada vez mais perto de conseguir realizar a proeza de viajar no tempo. “Engulam Soviéticos, querem andar a brincar às guerrazinhas…