• Jake Angeli, o Nostradamus do IKEA

      Se preferirem, podem ouvir aqui:   Ou ler aqui: Julgo que as imagens da invasão do Capitólio vão estar connosco durante bastante tempo e que, invariavelmente quando pensarmos nesse dia, a grande imagem que nos surgirá é do Viking do Arizona. O homem dos cornos e cara pintada com as cores da bandeira dos Estados Unidos da América. Esse homem assina como nome artístico Jake Angeli e auto-intitula-se o líder xamânico do QAnon. Mas afinal o que é o QAnon? Ora, o QAnon é uma teoria da conspiração, pro-trump, que defende que, apesar do ex-presidente ser um cristão imperfeito, foi o escolhido por Deus para levar a cabo a…

  • “O Outono em Pequim” de Boris Vian

    Houve esta: “Folubert Sansonner deteve-se, comovido, diante da porta de Léobille e mergulhou o indicador da mão direita no buraquinho da campainha, agachada no fundo pois estava a dormir. O gesto de Folubert acordou-a em sobressalto. Virou-se e mordeu cruelmente o dedo de Folubert, que desatou a ganir em tom agudo. (…) Este empunhava uma pistola fumegante, com a qual acabara de matar a campainha. (…) _ Matei este bicharoco infame – disse ele. – Trate você da carcaça. _ Mas… – disse a irmã de Léobille. Depois desfez-se em lágrimas, pois a campainha já estava com eles há tanto tempo que fazia parte da família.”   Mas foi principalmente…

  • “Your Fathers, Where Are They? And the Prophets, Do They Live Forever?” de Dave Eggers

      Oh, Eggers, Eggers, que bem me fazes tu!   Para quem não conhece Dave Eggers, tenho uma pequena introdução na opinião que fiz sobre “A Heartbreaking Story of Staggering Genious”, o primeiro livro da sua carreira de escritor. “Your Fathers, Where Are They? And the Prophets, Do They Live Forever?” aparece 14 anos depois. Este é um livro cujo personagem principal, Thomas, procura respostas sobre o mundo a partir de um evento específico, a morte do seu melhor amigo. Para isso,conversa com várias pessoas que de alguma forma fizeram parte da sua vida ou estiveram relacionadas com o evento, desde um astronauta, ao médico responsável do hospital na noite…

  • “Flowers for Algernon” de Daniel Keyes

    Não há muitos livros que eu aconselhe, sem receio, toda a gente a ler. Mas “Flowers For Algernon” é um deles sem dúvida alguma. Além de ser um livro magistralmente bem escrito, na minha opinião é impossível sair-se dele ileso. Algernon é um rato de laboratório que é submetido a uma cirurgia ao cérebro para aumentar o seu QI – na realidade depois de várias experiências noutros animais, é o primeiro no qual a cirurgia resulta. Charlie é um deficiente mental com um QI de 68 e o primeiro ser humano a ser submetido à mesma experiência depois dos resultados de sucesso obtidos com Algernon. Charlie é o escolhido porque,…

  • Dave Eggers

    Dave Eggers , escritor nascido em Boston e formado em Pintura, dedicou a maior parte do seu percurso profissional ao jornalismo – começou como editor na Salon.com e fundou a revista Might. O seu primeiro livro foi uma memória (com elementos fictícios) A Heartbreaking Work of Staggering Genius, de 2000. Centra-se na luta do autor para criar seu irmão menor em San Francisco após a repentina morte de seus pais. O livro converteu-se rapidamente num bestseller e foi finalista do Prêmio Pulitzer na categoria Geral Não-Ficção. Tem imensos livros publicados, no campo da ficção, não-ficção e até para públicos mais jovens, mas o seu trabalho destaca-se também como editor da…

  • “Catch 22” de Joseph Heller

    Joseph Heller nascido em Brooklyn, em 1923, é considerado um dos mais importantes escritores da literatura americana. Em 1961, publicou “Catch-22”, inspirado na sua experiência durante a Segunda Guerra Mundial – entrou para a Força Aérea Americana e aos vinte anos e foi enviado para Itália, onde voou em 60 missões de combate num bombardeiro B-25. Depois da guerra, Heller formou-se na Universidade de Colúmbia, e recebeu, em 1949, uma bolsa da Universidade de Oxford, onde permaneceu entre 1949 e 1950, trabalhou como professor de Inglês na Universidade de Pensilvânia (1950-1952), como redator de publicidade para as revistas Time (1952-1956) e Look (1956-1958) e como editor da McCall’s. Enquanto isto…

  • “SeinLanguage” de Jerry Seinfeld

    Para falar de SeinLanguage, livro escrito pelo comediante icónico Jerry Seinfeld em 1993, cinco anos antes do último episódio de “Seinfeld”, preciso de contar a minha relação com a série, que chegou a Portugal no ano 2000, transmitida pela TVI às 4 da madrugada, tinha eu 17 anos. Não me lembro do primeiro episódio que vi, tendo em conta a hora tardia e o facto de ter aulas no dia seguinte, mas imagino que apenas terá sido necessário um episódio para me agarrar o suficiente ao ponto de dormir todas as noites no sofá da sala e desenvolver um género de despertador interno que me acordava alguns segundos antes do…

  • “Miopia e Astigmatismo” de Nuno Markl

    Nuno Markl tem uma forma muito característica de se expressar – a mim, bastar-me-iam três ou quatro frases para ter a certeza de que haviam sido escritas por ele. Há muitas palavras, há muito caídas em desuso, que ele faz questão de manter vivas, tais como: “petizada”, “comezaina”, “bandalho”, “assenti”, entre outras. Markl, é um homem com um humor extraordinário porque esse humor assenta, sobretudo, na sua própria vida (sim, como é típico na maioria dos humoristas), mas mais do que o seu entorno, nele próprio, desde a sua barriga, à sua falta de jeito e, claro está, ao seu nariz. Tudo parte dele mesmo e das situações que se…

  • “Certas Coisas Que Não Sei Explicar” de João Quadros

    O João Quadros não é um sociólogo, na medida em que não pretende teorizar política, económica, social nem psicologicamente sobre os problemas que apresenta. Como quem vai às compras, ou precisa de contratar um carpinteiro, Quadros, lista aquilo que, na faculdade, me ensinaram a chamar de “problemas sociais contemporâneos”, ou seja, problemas que dominam a sociedade que existe nos dias de hoje, fruto da evolução dos tempos.   Sempre no backstage, João Quadros assinou os guiões de uma grande parte dos programas humorísticos do nosso país, tais como “Os Contemporâneos” “Contra-Informação”, “O Último a Sair” ou “Herman Enciclopédia”. É ainda, o autor do lendário sketch “Eu é que sou o…

  • “Ensaio sobre a Cegueira” de José Saramago

      O meu primeiro contacto com José Saramago foi com O Conto da Ilha Desconhecida, que o escritor lançou pela altura da Expo 98. Há 22 anos eu tinha 15, e, na escola secundária, O Memorial do Convento não foi uma leitura obrigatória. Não consegui ler; a linguagem (e o peso que colocavam sobre ela quando ouvia falar de Saramgo) criaram uma barreira que me foi impossível de transpor aos 15 anos e que, nunca mais tornei a tentar – sinceramente, foi autor que julguei nunca ler, ou ler apenas um livro só para não deixar em branco um item de uma lista de livros obrigatórios. E quando pensava em…