O Comboio de Karenina
crónicas acerca de saúde mental, principalmente da minha, Perturbação Obsessiva Compulsiva e de como ela ramifica para outro tipo de distúrbios com outros sintomas.
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e se um dia acordasses com ADHD, POC & a precisar de tomar banho?
Uma das grandes diferenças entre um cérebro adhd e não adhd é a forma como interpreta acções. Se para os últimos os gestos automáticos nem são pensadas como tarefas; para nós (primeiros) tudo é tarefa, e o vosso gesto automático pode ganhar proporções desmedidas. No meu caso, juntando-lhe a OCD/POC, o básico torna-se hérculeo. Esta é a CRÓNICA: “e se um dia acordasses com adhd, ocd & a precisar de tomar banho? Para ti tomar um banho não é uma tarefa, é imediato, mas hoje que acordaste na minha pele vais perceber o que é uma empreitada desdobrada em, PELO MENOS, 20 tarefas, fora as variáveis… Tudo é sujeito a…
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Living with both OCD and ADHD
O mais difícil de viver com OCD e ADHD (e outros que mais) é o medo constante. Nunca me habituarei a ter medo. Nunca me habituarei a ter medo porque não é medo que sinto – é medo que chamo ao que sinto para que quem não sente como eu me consiga entender. É algo parecido, mas misturado com um cansaço desesperante de quem chega ao ponto de querer dar um tiro na cabeça porque não encontra forma de a fazer parar. Não quero – gosto demasiado de café – mas preciso… Não quero nada… mas não há outra solução. Não quero.. bolas, gosto tanto de café… preciso de dormir.…
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Como a POC mudou a minha vida
Desde que o meu psiquiatra conheceu aquela que é a sua paciente favorita, que a vida dele nunca mais foi a mesma. Curiosamente a minha também não. Quando em Janeiro de 2018 entrei no seu gabinete em Carnaxide, apenas consegui balbuciar entre soluços coisas que fazia para garantir a integridade da minha vida e da dos que me rodeavam; como é que era possível ir lavar as mãos sem lavar as torneiras depois de as fechar, visto que tinha as mãos sujas quando as abri? E, claro… depois de lavar as torneiras sujas, as mãos precisam ser lavadas novamente, mas depois voltávamos ao dilema das torneiras sujas. Era impossível…
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Diários de uma POC Cartesiana
Quando comecei a minha psico-terapia, em Junho de 2018, decidi documentar o processo em forma de diário escrito. Em Outubro de 2019 tive aquela que seria a minha última consulta e, nesse momento, o diário fechou-se também. Foi um ano e meio de entradas metódicas e, quase, diárias. Umas curtas e outras bem longas. Toda uma descoberta de uma nova pessoa e o seu crescimento assente em folhas de papel. Para quem sofre de uma doença do foro psiquiátrico o descanso é CRUCIAL! Quando digo que estou cansada é normal que relativizem o cansaço: “Ó filha, estamos todos!”, mas a verdade é que eu canso-me muito mais do que uma…
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A conjura da memória
Desde muito cedo que desejo escrever as minhas memórias – talvez num acto desesperado de fazer permanecer o tempo em mim. Há uns anos atrás assisti a um debate sobre Alzheimer, e um dos médicos presentes fez uma observação que, apesar de não conseguir reproduzir na íntegra, nunca mais esqueci: “Uma pessoa é composta de memórias e a partir do momento em que essas memórias desaparecem, a pessoa deixa de ser.” Talvez tenha sido essa observação que tenha despoletado em mim esta obsessão pelas memórias, tavez por medo de um futuro em que perca o meu passado. Apesar de viver agarrada ao passado, sonho sempre com muita urgência no futuro,…
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Olhar para este mundo sob os olhos de uma ansiosa
Comecemos pelo mais básico: Quando uma pessoa que sofre de qualquer tipo de distúrbio que provoque, ou cujo sintoma, seja ansiedade, há uma lista de “lugares comuns” que NUNCA se devem dizer, entre eles: não vale a pena estares assim porque isso não muda nada; tens de lutar contra isso: tens de te distrair; Por norma, a ansiedade ataca quando a pessoa se encontra num estado de depressão aguda. Não vale a pena estar aqui a enunciar os sintomas da depressão porque todos sabemos, mal ou bem os mais comuns (letargia, irritação, vulnerabilidade, desinteresse, perturbação do sono, alimentação e actividade e, claro, medos, preocupações e inseguranças infundadas, além de…
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Um obsessivo-compulsivo em tempo de pandemia
Num mundo em que as palavras de ordem são: LAVEM AS MÃOS O MAIOR NÚMERO DE VEZES POSSÍVEL e FIQUEM EM CASA, ISOLEM-SE, há quem não coloque em causa as consequências que isto pode ter para um Obsessivo-Compulsivo que, na maioria dos casos, recorre ao isolamento como fuga ao confronto, crucial à sua terapia, e, para os que sofrem com rituais a nível de contágio, que tiveram de aprender a evitar as lavagens compulsivas das mãos. Além de que, para estas pessoas, o risco de contágio possa ser, significatimente menor, existe um enorme risco de comprometer meses (ou anos!!) de terapia, não falando que o estado de emergência compromete também…













