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De Budonga a Budonga
Era uma vez uma barata que um dia acordou e era um Homeostético… Era uma barata. Muito barata, muito normal. Barata não no sentido depreciativo do termo, mas sim no sentido de animal ou insecto. Vivia na sua casa barata com os filhos baratos. Baratos, os filhos, também não no sentido depreciativo, mas no sentido da mãe barata. Já à casa, como não pode ter o de animal ou insecto, porque é uma casa e não um animal ou insecto, restou-lhe o tal outro sentido._ Mas o que é que me aconteceu?Tentou mexer as suas várias perninhas, mas elas haviam-se transformado em quatro membros opulentos, de estrutura e funções diferentes.…
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Os Portugueses não podem ver nada
Os Portugueses não podem ver nada Assim que a DGS leu a minha crónica de há uns dias sobre a Máquina do Tempo que os americanos estão a tentar desenvolver para fazer a maioria dos seus estados regressar ao passado, Gracinha, cheia do broche que em si há sempre ao peito, chamou o António Costa ao seu gabinete: _ Toninho… tu que não te cansas de apregoar que queres estar sempre na linha da frente, não achas bem c’agente vá lá à América pedir uma máquina destas? _ Mas Gracinha, nós já estamos na linha da frente a nível de casos de infecção de Covid. _ Ai filho, isso…
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Manual do bom fascista
Hoje cedo bateram-me à porta e, para minha infelicidade, não consegui esconder a minha presença. Era um homem esguio, de fato e gravata. Eu, já escaldada com estes tipos avisei logo: _ Se vem para instalar o medo pode dar meia volta que o Carlos e o Sousa já cá estiveram a semana passada. _ O Carlos e o Sousa? Mas nós não temos ninguém com esses nomes na nossa empresa! Confirmou as credenciais dos técnicos? Olhei-o de lado… _ Estou a ver pelo seu ar de dúvida que os meus colegas fizeram um bom trabalho, então! _Ouça, eu já disse e torno a dizer, eu vivo com dois cães,…
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“Mizé – Antes galdéria do que normal e remediada” de Ricardo Adolfo
Ricardo Adolfo é um escritor português nascido em Angola que vive em Tóquio e “Mizé – Antes Galdéria do que Normal e Remediada”, escrito em 2006 foi traduzido para espanhol, alemão e holandês, editado primeiramente pela D. Quixote, em 2010 pela Alfaguara e em 2021 pela Companhia das Letras. 2003 “Os Chouriços São Todos para Assar” 2009 “Depois de Morrer Aconteceram-me Muitas Coisas” 2014 “Maria dos Canos Serrados” valeu-lhe a nomeação como uma das Caras do Futuro da literatura portuguesa pelo escritor António Lobo Antunes para a edição especial do 20.º aniversário da revista Visão. 2015 – “Tóquio Vive Longe da Terra” explora as particularidades diárias e as excentricidades…
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“A Balda do Medo” de Norberto Morais
Em “A Balada do Medo” de Norberto Morais, somos transportados para um lugar que sabemos não existir mas cujas características reconhecemos como sendo reais. Entendemos tudo sobre o seu espaço e sobre o seu tempo, não porque estejam descritos, mas pela linguagem utilizada que, recuperando termos antigos e dizeres populares (à letra ou adaptados) nos remetem para uma ruralidade onde o frenesim do século XX ainda pouco se adivinhava. Lutando por uma vida sem medo, mas vivendo o medo pela vida, acompanhamos a jornada de Cornélio, um caixeiro-viajante através, não só do seu país, mas também das memórias que evoca na hora de deitar contas ao destino. Ao longo dessas…
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Se não usares máscara na via pública, estás sujeito a ler menos. A não ser que….
Bem, parece que já foi aprovada a obrigatoriedade do uso de máscara na via pública. A partir de agora, senhoras e senhores, quem desrespeitar a ordem pode ser multado num valor entre os 100€ e os 500€. Como sempre, desde o início da pandemia, as regras são muito simples e claras, mas para ter a certeza absoluta de como proceder correctamente, porque 100€ em multas é muita leitura desperdiçada, consultei um artigo do Expresso sobre o assunto. Resumo-vos aqui tudo o que têm de saber para agirem em conformidade com a obrigatoriedade do uso de máscara na via pública: a medida vai estar em vigor pouco mais de dois meses,…
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“Ensaio sobre a Cegueira” de José Saramago
O meu primeiro contacto com José Saramago foi com O Conto da Ilha Desconhecida, que o escritor lançou pela altura da Expo 98. Há 22 anos eu tinha 15, e, na escola secundária, O Memorial do Convento não foi uma leitura obrigatória. Não consegui ler; a linguagem (e o peso que colocavam sobre ela quando ouvia falar de Saramgo) criaram uma barreira que me foi impossível de transpor aos 15 anos e que, nunca mais tornei a tentar – sinceramente, foi autor que julguei nunca ler, ou ler apenas um livro só para não deixar em branco um item de uma lista de livros obrigatórios. E quando pensava em…
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Neto de Moura, Bolsonaro e os #flatearthers: tudo o que uma civilização aprendeu e tudo o que uma civilização esqueceu.
Neto de Moura, Bolsonaro e os #flatearthers: tudo o que uma civilização aprendeu e tudo o que uma civilização esqueceu. 08 de Março. Dia Internacional da Mulher. É tempo de parar para pensar. Dois acontecimentos históricos mais recentes que mais despertam a minha curiosidade são a Segunda Guerra Mundial e a Queima dos Sutiãs. A primeira porque me impressiona a forma como um homem, politicamente “bem” posicionado e “bem” aproveitado consegue convencer uma nação (e inclusive ver o seu pensamento replicado além fronteiras) de que o conceito de “raça perfeita” existe e dizimar milhares de pessoas em busca desse ideal. Já a Queima dos Sutiãs representa, para mim, a mais…
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Entrevista a José Riço Direitinho
“Leio como se me escrevesses” – entrevista ao escritor José Riço Direitinho e artigo sobre o seu livro”O Escuro que te ilumina”, realizados em Novembro de 2018 “Eu sou muito bem comportadinho e escrevi um livro assim. (risos)” Esta entrevista não é uma entrevista, também o é, mas além disso, é uma conversa entre um escritor e uma aspirante a escritora, que encontrou no “O escuro que te ilumina”, uma identificação a nível pessoal e literário. Há respostas que são para mim, porque é a mim que essas questões assolam. Porque sou eu que o “Leio como se ele me escrevesse”. Muito se escreveu já sobre “O escuro que te…
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“A Balada do Yuppie Louco” de Edson Athayde
A Balada do Yuppie Louco by Edson Athayde My rating: 5 of 5 stars Este é um livro que se devora num fôlego! São short stories, de uma imaginação incrível, cheias de um sentido de humor que nunca nos deixa perder a noção da realidade. São quase como que pequenas pérolas kafkianas, nas situações mais bizarras e, ao mesmo tempo, tão quotidianas! Este livro marcou-me muito quando o li, há quase 20 anos atrás…. e ainda hoje gosto de lhe pegar para tornar a sentir aquela emoção muito ingénua, mas agora já não tanto. O Edson Athayde é um dos mais, se não o mais, famoso publicitário em Portugal. Para…


























